quinta-feira, 9 de junho de 2011

António de Oliveira Salazar
António de Oliveira Salazar nasceu em 1889, em Santa Comba Dão, descendente de uma família de pequenos proprietários agrícolas.
A sua educação foi fortemente marcada pelo Catolicismo, chegando mesmo a frequentar um seminário. Mais tarde estudou na Universidade de Coimbra, onde veio a ser docente de Economia Política.
Ainda durante a 1ª República, Salazar iniciou a sua carreira política como deputado católico para o Parlamento Republicano em 1921.
Já em plena Ditadura Militar, Salazar foi nomeado para Ministro das Finanças, cargo que exerceu apenas por quatro dias, devido a não lhe terem sido delegados todos os poderes que exigia. Quando Oscar Carmona chegou a Presidente da República, Salazar regressou à pasta das Finanças, com todas as condições exigidas (supervisionar as despesas de todos os Ministérios do governo).
Apesar da severidade do regime que impôs, publicou em 14 de Maio de 1928 a Reforma Orçamental, contribuindo para que o ano económico de 1928-1929 registasse um saldo positivo, o que lhe granjeou prestígio.
O sucesso obtido na pasta das Finanças tornou-o, em 1932, chefe de governo. Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, formou-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante ao fascismo de Benito Mussolini.
As graves perturbações verificadas nos anos 20 e 30 nos países da Europa Ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que ousavam discordar da orientação do Estado Novo.
Ao nível das relações internacionais, conseguiu assegurar a neutralidade de Portugal na Guerra Civil de Espanha e na II Guerra Mundial.
O declínio do império salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par do surto de emigração e de um crescimento capitalista de díficil controlo. É afastado do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Marcello Caetano. Acabaria por falecer em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.
O seu pensamento encontra-se compilado nos "Discursos e Notas Políticas (1935 - 1967)".
                                 

José Rodrigues dos Santos

   200px-jrs.jpg                                                   Natural da província da Beira, na antiga colónia de Moçambique do Império Português, mudou-se ainda bebé para a cidade de Tete onde permanece até aos nove anos, convivendo com a Guerra Colonial. Tal como a esmagadora maioria dos portugueses, alguns dos seus antepassados estiveram envolvidos na Primeira Guerra Mundial, na Flandres e na Guerra Colonial em África, sendo que o seu segundo romance, intitulado A Filha do Capitão é assumido como um tributo que lhes é prestado.  
   Após a separação dos seus pais, vem para Lisboa onde vive com a mãe. No entanto, as dificuldades económicas da mãe levam-no a mudar-se para a residência do pai, em Penafiel, no norte de Portugal. A difícil adaptação do pai a terras lusas motivou a partida para Macau. Já no oriente, participa na elaboração de um jornal escolar, que desperta o interesse dos responsáveis da rádio local e leva o jovem estudante a ser entrevistado por uma jornalista que acabara de chegar a Macau: Judite de Sousa, hoje outra bem conhecida jornalista portuguesa e sua colega na RTP. Em 1980, aos 17 anos, o jovem José Rodrigues dos Santos inicia-se verdadeiramente no Jornalismo, ao serviço da Rádio Macau.  
   Em 1983, regressa a Portugal para frequentar o curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa. Terminado o curso, candidata-se a um estágio na BBC, (British Broadcasting Corporation), a bem conhecida emissora britânica de televisão. A resposta é positiva mas não lhe é concedido qualquer financiamento. Aplica então a herança do pai, entretanto falecido, em três meses de experiência profissional em Inglaterra.  
   Regressa a Portugal, onde obtém duas distinções: o Prémio Ensaio do Clube Português de Imprensa, em 1986 e o Prémio de Mérito Académico do American Club of Lisbon, em 1987. Devido a essas credenciais é convidado pela BBC World Service para trabalhar em Londres, onde fica durante três anos, até 1990.  
   Da BBC seguiu para a RTP, onde começou a apresentar o noticiário 24 Horas. Em 16 de Janeiro de 1991, as forças coligadas de 28 países liderados pelos Estados Unidos da América dão início ao bombardeio aéreo de Bagdad, no Iraque, dando início à Primeira Guerra do Golfo. José Rodrigues dos Santos protagoniza então uma maratona televisiva de cerca de 10 horas, sobre o ataque americano ao Iraque, acabando posteriormente por se tornar o rosto mais conhecido da televisão pública.  
   Em 1991 passou para a apresentação do diário Telejornal, o principal jornal diário da televisão portuguesa, no ar já por quarenta anos, e tornou-se colaborador permanente da CNN (Cable News Network), a cadeia norte americana de informação em contínuo, de 1993 a 2002. Hoje continua a apresentar o telejornal, em conjunto com Judite de Sousa e José Alberto Carvalho.  
   Doutorado em Ciências da Comunicação, com uma tese sobre reportagem de guerra, é professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP, ocupando por duas vezes o cargo de Director de Informação da televisão pública portuguesa. É um dos mais premiados jornalistas portugueses, tendo sido galardoado, além dos prémios já referidos, com o Grande Prémio de Jornalismo, em 1994, atribuído pelo Clube Português de Imprensa. Internacionalmente, venceu três prémios da CNN: o Best News Breaking Story of the Year, em 1994, pela história “Huambo Battle” relacionada com a Guerra de Angola; o Best News Story of the Year for the Sunday, em 1998, pela reportagem “Albania Bunkers”; e o Contributor Achievement Award, em 2000, pelo conjunto do seu trabalho, aquele que é considerado o Pullitzer do jornalismo televisivo.  
   José Rodrigues dos Santos é hoje um dos jornalistas mais influentes para as novas gerações e no panorama informativo nacional. No entanto, além da sua mais conhecida faceta como jornalista, José Rodrigues dos Santos é também um ensaísta e romancista. Especialmente nesta última vertente, tornou-se dos escritores portugueses contemporâneos a alcançar maior número de edições com romances que venderam mais de cem mil exemplares. Já publicou quatro ensaios e cinco romances, sendo o mais recente intitulado Ilha das Trevas.  
   Conforme é descrito no site da RTP, José Rodrigues dos Santos é um homem que perante os sérios problemas de um mundo em constantes convulsões não perde o sentido de humor, sendo-lhe atribuída a frase irónica: “Ainda não percebo porque é que o meu boneco do Contra Informação tem as orelhas tão grandes…”  Fonte: Wikipédia

José Saramago

José Saramago nasceu na Azinhaga, aldeia ribatejana (Golegã), em 16 de novembro de 1922. Em Lisboa, fez estudos secundários (liceal e técnico) que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir, compensando o facto com a sua condição de assíduo leitor da Biblioteca do Palácio das Galveias, atividade a que dedicava as horas pós-laborais.
O seu primeiro emprego foi de serralheiro mecânico nas oficinas do Hospital Civil de Lisboa, em cujos serviços administrativos viria, mais tarde, a ocupar um cargo. Entre as diversas atividades profissionais que exerceu, contam-se as de desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, editor, tradutor e jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, o romance Terra do Pecado, em 1947.
Como crítico literário, colaborou na revista Seara Nova, pertencendo, entre 1972 e 1973, ao corpo redatorial do jornal Diário de Lisboa.
Fez parte da primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores, tendo sido, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Em abril de 1975, foi nomeado diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias, vindo a ser destituído do cargo na sequência do 25 de novembro.
Na situação de desemprego, toma uma das mais importantes decisões da sua vida: dedicar-se exclusivamente à escrita, passando a viver, a partir de 1976, exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.
É Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim (Itália), 1991, de Sevilha (Espanha), 1991, e de Manchester (Inglaterra), 1994. É ainda membro Honoris Causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália), membro da Academia Universal das Culturas (Paris), membro correspondente da Academia Argentina das Letras e membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo).

                           
Manuel Maria de Barbosa l´Hedois Du Bocage
(1785-1805)

Manuel Maria Barbosa du Bocage nascido em Setúbal às três horas da tarde de 15 de Setembro de 1765, neto de um Almirante francês que viera organizar a nossa marinha,  filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, que foi juiz de fora, ouvidor, e depois advogado e de Mariana Lestoff du Bocage, cedo revelou a sua sensibilidade literária, que um ambiente familiar propício incentivou.
Sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Marie Anne Le Page du Bocage, tradutora do Paraíso de Milton, imitadora da Morte de Abel, de Gessner, e autora da tragédia As Amazonas e do poema épico em dez cantos A Columbiada, que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire e o primeiro prémio da academia de Rouen.
Apesar das inúmeras biografias publicadas após a sua morte, uma boa parte da sua vida permanece um mistério. Não sabemos que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim. A identificação das mulheres que amou é muito duvidosa e discutível.
Aos 16 anos assentou praça no regimento de infantaria de Setúbal e aos 18 alistou-se na Marinha, tendo feito o seu tirocínio em Lisboa e embarcado, posteriormente, para Goa, na qualidade de oficial.
Em 14 de Abril de 1786, embarcou como oficial de marinha para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena”, que fez escala no Rio de Janeiro (finais de Junho) e na Ilha de Moçambique (início de Setembro) e chegou à Índia em 28 de Outubro de 1786. A sua estadia neste território caracterizou-se por uma profunda desadaptação. Com efeito, o clima insalubre, a vaidade e a estreiteza cultural que aí observou, conduziram a um descontentamento que retratou em alguns sonetos de carácter satírico.
Em Pangim, frequentou de novo estudos regulares de oficial de marinha. Foi depois colocado em Damão, mas desertou, embarcando para Macau. Estranhamente, não foi punido e deverá ter regressado a Lisboa em meados de 1790
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 Na capital, vivenciou a boémia lisboeta, frequentou os cafés que alimentavam as ideias da revolução francesa, satirizou a sociedade estagnada portuguesa, desbaratou, por vezes, o seu imenso talento.  
Em 1791, publicou o seu primeiro tomo das Rimas, ao qual se seguiram ainda dois, respectivamente em 1798 e em 1804. No início da década de noventa, aderiu à "Nova Arcádia", uma associação literária, controlada por Pina Manique, que metodicamente fez implodir. Efectivamente, os seus conflitos com os poetas que a constituíam tornaram-se frequentes, sendo visíveis em inúmeros poemas cáusticos.
 Em 1797, Bocage foi preso por, na sequência de uma rusga policial, lhe terem sido detectados panfletos apologistas da revolução francesa e um poema erótico e político, intitulado "Pavorosa Ilusão da Eternidade", também conhecido por "Epístola a Marília".
 Encarcerado no Limoeiro, acusado de crime de lesa-majestade, moveu influências, sendo, então, entregue à Inquisição, instituição que já não possuía o poder discricionário que anteriormente tivera. Em Fevereiro de 1798, foi entregue pelo Intendente Geral das Polícias, Pina Manique, ao Convento de S. Bento e, mais tarde, ao Hospício das Necessidades, para ser "reeducado". Naquele ano foi finalmente libertado.
Em 1800, iniciou a sua tarefa de tradutor para a Tipografia Calcográfica do Arco do Cego, superiormente dirigida pelo cientista Padre José Mariano Veloso, auferindo 12.800 réis mensalmente.
A partir de 1801, até à morte por aneurisma, viveu em casa por ele arrendada no Bairro Alto, naquela que é hoje o nº 25 da travessa André Valente.
A sua saúde sempre frágil, ficou cada vez mais debilitada, devido à vida pouco regrada que levara. Em 1805, com 40 anos, faleceu na Travessa de André Valente em Lisboa, perante a comoção da população em geral. Foi sepultado na Igreja das Mercês.



Florbela Espanca(1897-1930)

Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora, e por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou.
Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos.
Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar».
Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.

A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.
Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.

Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.


                                      

 

D. Nuno Álvares Pereira


Cavaleiro militar português, nasceu em 1360, em Cernache do Bonjardim, filho ilegítimo do Prior da Ordem Militar do Hospital. A sua educação foi feita segundo os ideais da cavalaria medieval. Aos 13 anos foi apresentado na corte, onde logo se fizeram notar as suas qualidades e o seu génio militar, e tornou-se escudeiro da rainha D. Leonor Teles, esposa do rei D. Fernando. Aos 16 anos, por imposição do pai e apesar da sua resistência, casou com D. Leonor Alvim, senhora de grandes terras, de quem teve três filhos, entre eles D. Beatriz, que veio a casar com o príncipe D. Afonso, filho de D. João I, e que viria a ser o 1.o duque de Bragança. Entretanto, Nuno Álvares Pereira tomou contacto com as tropas inglesas estacionadas em Portugal, o que refinaria ainda mais as suas grandes qualidades de estratega militar.
Com a morte de D. Fernando, em 1383, e estando em causa a independência nacional, gera-se a revolta popular e todo um processo de luta contra as pretensões castelhanas em que Nuno Álvares Pereira vai ter um papel preponderante. Segue-se um período de lutas constantes entre os partidários de Castela e os defensores da independência de Portugal. A sua primeira grande vitória dá-se na Batalha dos Atoleiros, em 1384. Em 1385, nas Cortes de Coimbra, o Mestre de Avis é aclamado rei de Portugal e Nuno Álvares Pereira é nomeado Condestável do Reino. A luta contra os opositores de D. João I continua e dá-se a batalha decisiva de Aljubarrota, em 14 de agosto de 1385. Apesar da desigualdade de forças entre os dois exércitos, os portugueses obtêm uma vitória esmagadora, graças ao génio militar do Condestável, que pôs em prática as novas táticas de guerra que aprendera com os ingleses, além de ter escolhido o melhor local para o embate e tendo os combatentes portugueses uma confiança ilimitada no seu comando.
Em outubro de 1385, em Valverde, alcança nova vitória sobre os castelhanos, e continua a participar nos sucessivos confrontos, cada vez mais raros, que entretanto se verificaram, até que, em 1411, Castela reconheceu a independência de Portugal.
Com o consolidar da paz com Castela, Nuno Álvares Pereira, que entretanto fora cumulado com sucessivas doações de terras e bens, vai dedicar-se a obras de bem-fazer. Em 1393 distribui muitas das suas terras pelos companheiros de armas. Estando ele viúvo desde 1388, em 1414 morre-lhe a filha, D. Beatriz. Vai dar então novo rumo à sua vida, dedicando-se mais aos trabalhos agrícolas nos seus domínios de Vila Viçosa. Entretanto, ainda participou, em 1415, na conquista de Ceuta. Mas em 1422 reparte pelos netos os seus títulos e bens e em 1423 professa no Convento do Carmo, que ajudara a construir, tomando o nome de Nuno de Santa Maria, onde passa os últimos anos da sua vida, entregue à penitência e servindo os pobres. Veio a falecer em 1431. Já em vida era conhecido como o Santo Condestável, e foi beatificado pela Igreja em 23 de janeiro de 1918, sendo venerado a 6 de Novembro

D.João I


 
Décimo rei de Portugal, cognominado "O Príncipe de Boa Memória", fundador da segunda dinastia, que dele tomou o nome de Joanina (ou de Avis, por ter sido mestre desta Ordem Militar).
D. João nasceu em Lisboa no ano de 1357 e morreu na mesma cidade, no castelo de Alcáçova, a 14 de Março de 1433.
Era filho bastardo do rei D. Pedro I e de Teresa Lourenço, filha de Lourenço Martins, burguês, cidadão de Lisboa. Foi a este Lourenço Martins que D. Pedro entregou a primeira criação do pequeno bastardo. A seguir, é a D. Nuno Freire de Andrade, mestre da Ordem de Cristo, que D. Pedro confia o pequeno bastardo, para continuar a sua educação, vindo a tornar-se mestre da Ordem de Avis.
Falecido D. Pedro e elevado ao trono D. Fernando, é na corte de seu meio-irmão, que o mestre de Avis, então apenas de 10 a 11 anos, passa a mocidade.
Em 1383, vai ter um papel decisivo na conspiração de alguns nobres (entre os quais o moço Nuno Álvares Pereira e seu tio Rui Pereira, o conde de Barcelos e o popular conselheiro Álvaro Pais, padrasto do jurisconsulto João das Regras) para matar o Conde Andeiro, conselheiro galego de D. Leonor Teles, acontecimento que vai desencadear a crise seguinte.
Perante a ameaça de invasão castelhana, é nomeado Regedor e Defensor do Reino e, em 6 de Abril de 1385, é aclamado rei nas Cortes de Coimbra. Tem um papel decisivo na luta contra Castela. Nomeia D. Nuno Álvares Pereira como Condestável (chefe dos exércitos) e pede ajuda ao rei de Inglaterra. Finalmente dá-se a derrota dos Castelhanos em Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385.
A 9 de Maio de 1386 é assinado um tratado  entre D. João I e o rei de lnglaterra; e a 2 de Novembro de 1387, D. João I casa com a filha mais velha do Duque de Lencastre, D. Filipa de 28 anos. Deste casamento nascem: D. Branca (n. em 1388, m. com 8 meses apenas); D. Afonso, de breve vida também (1390-1400); D. Duarte, o sucessor (1391); D. Pedro (1392), D. Henrique (1394), D. Isabel (1397), D. João (1400), D. Fernando (1402).
Uma vez desembaraçado de preocupações graves quanto a Castela (a paz é assinada em 1411), D. João aplica-se a consolidar e desenvolver a situação da nova era que na História Portuguesa se iniciara com a sua dinastia. É assim que vai surgir a empresa da tomada de Ceuta, em 1415, seguida dos Descobrimentos portugueses por mar.
Morreu a 14 de Março de 1433, com 77 anos de idade, e é sepultado no mosteiro da Batalha, conforme o seu testamento.

                                          

D. Inês De Castro

Não se sabe ao certo a data do seu nascimento. Era filha do galego D. Pedro Fernandez de Castro e prima em 2º grau do infante D. Pedro de Portugal. Era extremamente bela e veio para Portugal em 1340, como dama de honor de D. Constança, noiva de D. Pedro. D. Pedro casou com a sua prometida, D. Constança, mas logo se apaixonou por D. Inês tão profundamente, que com ela manteve um grande amor, de que nasceram D. João e D. Dinis.
Este romance não era bem visto pelos portugueses que temiam a influência política dos irmãos de D. Inês junto dela e receavam que os seus filhos pudessem vir a subir ao trono português em vez do herdeiro legítimo, D. Fernando.
Então, o rei D. Afonso IV (pai de D. Pedro), depois da morte de D. Constança, instigado pelos conselheiros da Corte, mandou matar D. Inês.
Assim, D. Inês foi degolada, no dia 7 de Janeiro de 1355, em Coimbra. E, se com esta trágica morte se evitou  o perigo castelhano, originou-se a revolta do infante D. Pedro.
Quando subiu ao trono, D. Pedro vingou a morte da sua amada, com quem se teria casado em segredo, mandou matar os seus algozes e, segundo a lenda, deu-lhe a dignidade de rainha, obrigando os súbditos a beijarem-lhe a mão depois de morta.
Foi sua vontade ser sepultado junto de D. Inês.
Os amores de D. Pedro e de D. Inês ficaram imortalizados na literatura portuguesa com Garcia de Resende, Camões e António Ferreira.

                           

Rainha Santa Isabel

Uma das rainhas mais conhecidas foi D. Isabel. Mulher do rei D. Dinis, filha de D. Pedro III de Aragão e de D. Constança de Navarra, nasceu em Saragoça ou Barcelona entre 1269 e 1270, e morreu em Estremoz, atacada pela peste, em 1336. O avô, Jaime " «O Conquistador», chamava-lhe a «Rosa da Casa de Aragão».
Recebeu na corte de seu avô, onde viveu até à morte deste, e depois junto de seus pais, esmerada educação. Desde muito nova mostrou gosto pela meditação e solidão, por rezas e jejuns.
Em 24 de Abril de 1281, foram assinadas as bases do seu contrato de casamento com o rei D. Dinis, tendo o mesmo sido realizado por procuração, em Barcelona, em 1288. Em 24 de Junho realizou-se em Trancoso, a cerimónia do casamento. Nos primeiros tempos de casada acompanhou o rei nas suas deslocações pelo País e a sua modéstia e bondade conquistaram a simpatia do povo. A sua caridade e piedade foram notórias: os pobres e os infelizes tinham sempre apoio material e moral junto dela. Dotava com as suas próprias rendas as raparigas mais pobres e educava os filhos dos cavaleiros sem fortuna. Desempenhou papel de medianeira nas lutas entre o rei e o seu irmão e entre o rei e o príncipe herdeiro D. Afonso. Acusada de favorecer os interesses do filho, foi mandada para a sua vila de Alenquer. Por sua intervenção, a paz foi assinada em 1322. Um ano mais tarde, foi ela novamente que evitou a luta entre ambos, quando as tropas estavam já prestes a entrar em combate.
Depois da morte do rei, fixou residência em Coimbra, junto do Convento de Santa Clara. Mandou construir o Hospital de Coimbra, o de Santarém e o de Leiria. Nesta cidade fundou, também, um recolhimento para mulheres e ainda uma albergaria em Odivelas.
Sepultada, por sua vontade, no Convento de Santa Clara, foi mais tarde transladada para o novo Convento e depositada em cofre de prata e cristal. O povo criou à sua volta uma imagem de santidade, atribuindo-lhe vários milagres.
Em 1625 foi canonizada pelo Papa Urbano VIII.

                                    

D.Dinis




D. Dinis, 0 Lavrador



Nasceu a 9 de Outubro de 1261 e subiu ao trono a 16 de Fevereiro de 1279.
Quando o rei D. Dinis subiu ao trono, já tinham acabado as lutas com os Mouros. Assim, D. Dinis pôde reinar em paz, Ficou até conhecido como O Lavrador, porque tomou medidas para desenvolver a agricultura. Preocupou-se também com o comércio dentro do país, criando feiras, e apoiou o comércio entre Portugal e outros países da Europa, protegendo muito os mercadores.
D. Dinis era muito culto e, talvez por isso, tomou o gosto pela cultura e pela língua portuguesas. Foi ele quem ordenou que todos os documentos oficiais passassem a ser escritos em Português e não em Latim, como era costume. Fundou a primeira Universidade Portuguesa. Na sua corte havia sempre grande animação e ele próprio fazia versos muito bonitos.
Casou com D. Isabel de Aragão que ficou conhecida como a Rainha Santa Isabel.
Morreu a 7 de Janeiro de 1325.

                             

D.Afonso Henriques

Nasceu provavelmente em 1109, filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, filha bastarda de Afonso VI de Leão.
Após a morte do Conde D. Henrique, o governo ficou nas mãos de D. Teresa. D. Afonso Henriques tinha então três anos.
Revelando grande ambição, D. Teresa passou a usar o título de rainha. O seu objectivo era mesmo ser rainha não só do Condado Portucalense mas também da Galiza.
Os nobres portucalenses, porém, não concordaram com esta política e trataram de apoiar D. Afonso. E, em 24 de Junho de 1128, nos campos de S. Mamede (arredores de Guimarães), o seu exército obtém uma grande vitória sobre D. Teresa. A partir daí, o jovem Príncipe passa a governar o Condado.
Em 1139, após a importante vitória sobre os Mouros, em Ourique, começa a utilizar o título de rei. Mas esse título só lhe seria reconhecido pelo seu primo, Afonso VII, em 1143, na Conferência de Zamora.
D. Afonso Henriques lança-se então no alargamento da fronteira sul de Portugal. Em 1147, conquista aos Mouros duas importantes cidades da linha do Tejo: Santarém e Lisboa. Beja (1162) e Évora (1165) foram as últimas grandes conquistas do primeiro rei português.
Casou, em 1146, com Mafalda de Sabóia de quem teve sete filhos, entre os quais D. Sancho, seu sucessor.
Morreu a 6 de Dezembro de 1185.
 
                                

Viriato

Foi pastor e chefe hispânico no século II a. C.
Conduziu os Lusitanos, na luta contra os romanos, a partir de 150 a. C.
Notável na táctica de guerrilha e admirável chefe-guerreiro, animou os seus guerreiros sob duras condições de vida, rompendo cercos, vencendo os melhores generais romanos, com retiradas fingidas e conhecimento perfeito do terreno.
Os seus homens lutavam com pequenas espadas, dardos, punhais e lanças, protegendo-se com escudos circulares de couro. Durante a luta cingiam a fronte com panos coloridos.
Viriato casou com a filha de um importante agricultor da planície, demonstrando conhecer a necessidade de alianças entre as várias populações para fazer frente ao perigo romano.
A luta com os poderosos exércitos romanos foi longa, os jovens morriam, os velhos não exploravam as terras, por isso aceitaram as tréguas com o inimigo, também já cansado da guerra.
Impressionados pela humanidade com que tratou os vencidos depois da batalha de Arsa, os Romanos concederam-lhe o título de Amicus populi romani.
Mas Roma não desistiu de impor a sua autoridade, e quebrou as tréguas, voltando a atacar os povos exaustos e dispersos na Península.
Viriato propôs um acordo aos Romanos, comprometendo-se a depor as armas em troca da garantia de um território. Contudo Roma legou a Servílio Cipião extraordinários poderes. Este comprou dois soldados de Viriato, que acederam matar o seu chefe.
Assim, Viriato foi morto, à traição, enquanto dormia na sua tenda, no ano de 139 a.C.


                          

Luis Vaz de Camões

LUÍS VAZ DE CAMÕES (1524? - 1580) Luís de Camões é considerado o poeta máximo da língua portuguesa (épico e lírico). Desde muito cedo ganha gama de conquistador. Apaixona-se por Catarina de Ataíde, cujo nome é celebrado no poema Natércia. Fica cego da vista direita, quando luta pelas tropas portuguesas, na África. É preso por envolver-se em uma rixa durante uma procissão de Corpus Christi. No cárcere, inicia o poema épico Os Lusíadas. Livre, embarca para as Índias, onde exerce o cargo de Provedor dos Ausentes e Defuntos. Nas Índias, escreve mais seis cantos de sua obra. De volta à terra natal, é vitíma de um naufrágio; salva-se a nado com o seu manuscrito. Na cidade do Porto conclui Os Lusíadas. Dedica-se a obra a D. Sebastião, que lhe concede uma pensão de quinze mil réis anuais. Camões escreve ainda: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo; 286 sonetos, 122 elegias, algumas sátiras e poesias bucólicas. A obra de Camões pode ser subdividida em dois gêneros: Lírico e Épico. Camões Lírico A lírica camoniana é bastante variada quanto à forma dos poemas, que foram produzidos tanto na medida velha quanto na nova. É importante notar que isso ocorreu simultaneamente, e não em fases sucessivas. Camões escreveu: _ redondilhas (antigamente estrofes de quatro versos; mais tarde, passa a ser a composição de cinco ou sete sílabas (redondilha menor e maior)); _ sonetos; _ éclogas (poesia pastoril, em geral dialogada); _ odes (palavra grega que significa canto; composição lírica composta de estrofes simétricas); _ elegias (poema lírico cujo tom é quase sempre terno e triste, uma espécie de lamentação fúnebre); _ canções; _ vilancetes. Destaca-se dos demais poetas lusos pela profundidade do pensamento e pela qualidade da linguagem, especialmente nas redondilhas e nas éclogas. Sem dúvida nenhuma, é no soneto que Camões atinge o máximo do lirismo português. Seus sonetos serviram, posteriormente, de inspiração a Bocage, a Olavo Bilac e a Vicente de Carvalho. Camões Épico A obra épica de Camões é o poema Os Lusíadas, inspirado nas epopéias clássicas (Íliada, Odisséia, Eneida). Tendo como porta-voz o navegador Vasco da Gama, na realidade Os Lusíadas tem como personagem principal o próprio povo lusitano, cujos feitos corajosos são exaltados. Portugal, que atingira o máximo de glória durante o período das grandes navegações, começa a entrar em decadência e Camões tenta, com sua obra, reerguer o espírito português. A obra conta a viagem de Vasco da Gama às Índias, ressaltando a coragem dos portugueses e contando vários episódios da história de Portugal. Dividido em 10 cantos, este poema épico possui 1102 estrofes, num total de 8816 versos, todos decassílabos. Essa disposição das rimas recebe o nome de oitava rima ou oitava real. A estrutura da obra é a seguinte, de acordo com o modelo clássico; a) proposição: o que o poeta pretende cantar; b) invocação: o poeta pede às Tágides (ninfas do Tejo) para ajudá-lo a compor num “estilo grandíloco e corrente”; c) dedicatória: o poeta oferece a obra ao rei D. Sebastião; d) narração: toma grande parte da obra: vai do verso 19 até o final do canto X. O poeta narra a viagem de Vasco da Gama às Índias, como pretexto para contar as peripécias dos lusos; e) epílogo: compreende um trecho do canto X. Nele, o poeta faz referência aos feitos futuros do povo português.

                               

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa Poeta português, Fernando Antonio Nogueira Pessoa, nasceu em 1888, em Lisboa, e morreu nessa mesma cidade em 1935. Filho da pequena burguesia lisboeta, cresceu em Durban (África do Sul) freqüentando mais tarde a Universidade de Capetown. Foi o inglês sua segunda língua materna e, como anglicizado, teve depois dificuldades em reencontrar-se na vida portuguesa. Em Lisboa, logo abandonou os estudos, dedicando-se, como autodidata, a vastas leituras de filosofia e poesia. Levou vida modesta, complementando sua renda pela confecção de horóscopos nos quais acreditava. Foi defensor de práticas místicas, tendo sido membro da Fraternidade Rosacruz.

Sua obra é altamente intelectualizada. Suas primeiras poesias somente foram publicadas em 1915 na revista "Orfeu". Muitas delas ficaram durante sua vida inéditas pois, em vida, seu talento era apenas reconhecido pelos círculos limitados da boêmia literária de Lisboa. Fernando Pessoa é crescentemente reconhecido como o maior poeta português desde Camões.
 
                                     

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Teatro Gil Vicente

O teatro Gil Vicente foi e continua a ser um equipamento cultural de grande importância para os barcelenses.
Sem qualquer espécie de dúvida, constituiu, durante a maior parte do século vinte, a única casa capaz de albergar as realizações de grande vulto que ocorreram em Barcelos, quer de ordem cultural e recreativa, quer mesmo de ordem política e religiosa. Por ali passaram várias gerações que se enriqueceram culturalmente, sobretudo das classes menos favorecidas que não tinham dinheiro para se deslocarem a outras terras para assistirem à representação de peças de teatro e verem cinema.
O teatro Gil Vicente faz parte, por isso, da memória colectiva da cidade, e porque não dizê-lo, do concelho de Barcelos.
O velho edifício esteve ferido de morte durante muito tempo, aguardando a execução de um projecto de recuperação. Actualmente, guardamos, apenas, a memória dos espectáculos de teatro e das diversas sessões cinematográficas e outras ali realizadas.
Mas, antes de existir um edifício próprio e condigno para as representações teatrais, o teatro, em Barcelos, foi representado em diversos locais, entre os quais, nos Solares dos Nobres, no Paço dos Condes-Duques, no Solar dos Pinheiros, no antigo quartel do Regimento de Infantaria 20, no antigo quartel dos Bombeiros e em diversos  barracões levantados no Campo da Feira.
O começo do século passado concretizava uma velha aspiração e os barcelenses viam edificar-se uma casa de espectáculos que, com algumas deficiências, permitia a realização de peças de teatro.
A sua construção deveu-se à vontade indómita de um punhado de naturais, entre os quais salientamos, os irmãos António e Abel Fiúza, Manuel Viana e os Drs. Martins Lima, Rodrigo Veloso, António Ferraz e José Vieira Ramos que, nos finais do século XIX, começaram a pensar na edificação de um espaço próprio e condigno para representar essa nobre Arte de Talma.
Assim, em 21 de Agosto de 1893, era formada, definitivamente, a Empresa Teatral Gil Vicente, que veio a ser constituída por vários accionistas, tendo tido como primeiro presidente da direcção, o Dr. Martins Lima, médico e líder local do Partido Republicano Português.
Não foi sem dificuldades que o processo de edificação do teatro avançou. Desde logo, o seu projecto, da autoria do engenheiro civil António José Lima, nosso conterrâneo, haveria de levantar acesa polémica, sendo as críticas mais contundentes veiculadas por “A Lágrima”. Em vários números, a redacção deste quinzenário humorístico e ilustrado local não poupou o projecto, nem o seu autor. Esta polémica envolveu outros dois jornais, os semanários locais “Folha da Manhã” e “O Comércio de Barcelos”, embora favoráveis ao projecto, e a quem aquele quinzenário acusava de falta de imparcialidade.
Depois, o pagamento das acções subscritas prolongou-se por demasiado tempo, o que impediu a disponibilização, em tempo útil, das verbas necessárias. A este propósito, em Março de 1901, “A Lágrima” afirmava:
“O nosso teatro, aquele de que nos queremos ocupar, tem sido um motivo de coragem para os seus empresários, os quais arrostando com tantíssimas dificuldades têm quase vencido uma das maiores, o da construção. Falta-lhes vencer um, senão o mais importante, pelo menos aquele que os anima ao grande impulso – é o conseguir de alguns dos snrs. accionistas o pagamento das suas quotas em dívida; bem o pede a exmª gerência que manifesta desejos veementes de ver concluída a obra que, com tantas dificuldades, tem erigido e, uma vez conseguido este justíssimo desideratum, verão caminhar com fervorosa vontade as obras tão custosas pela falta de meios com que sempre têm de lutar. A necessidade de terminar as obras do teatro é manifesta e impõe-se como impreterível, não só como aformoseamento da terra, como pelas necessidades que lhe são inerentes.”
Mas, apesar de todas as dificuldades, o teatro Gil Vicente foi inaugurado, em 31 de Julho de 1902, com uma peça de teatro de revista de assuntos locais, “Barcelos por Dentro”, da autoria de Augusto Soucasaux, e versos do Dr. Martins Lima, Arnaldo Braz e Artur Vieira. Outras duas peças de teatro de revista de assuntos locais foram levadas à cena, com cenários do pintor barcelense, Gonçalves Torres, “Ai que Treta se Mariquinhas”, em Maio e Junho de 1935, da autoria de Augusto Soucasaux, Artur Roriz e Décio Nunes e “Ou Vai ou Racha”dos mesmos autores, em Junho e Julho de 1955.
Estas peças envolveram muitos actores amadores locais e foram o produto da imaginação e do espírito crítico da nossa melhor inteligência. Os espectáculos encheram completamente o nosso teatro e atraíram a Barcelos pessoas das localidades vizinhas.
Uma outra peça de teatro de revista, “Barcelos-Praia”, da autoria dos mesmos autores das duas últimas revistas atrás citadas, embora anunciada na imprensa local, em Março de 1937, nunca chegou a ser leva à cena.
Também ali foram representadas peças de teatro e récitas realizadas e interpretadas por amadores locais, algumas das quais com a participação de homens e mulheres da mais alta sociedade barcelense, e cuja receita reverteu para diversas instituições. Amadores de outras localidades vieram, também, ao Gil Vicente, bem como se realizaram inúmeras récitas de finalistas de estabelecimentos de ensino locais e de escolas e universidades de outras terras, designadamente de Braga, Guimarães, Porto e Coimbra.
Por ali passaram, ainda, as principais companhias nacionais de teatro e de teatro de revista, tendo os barcelenses demonstrado a sua gratidão aos grandes vultos do palco, com homenagens, entre outros, aos actores Palmira Bastos, Alexandre Azevedo, Alves da Cunha, Laura Alves e Raúl Solnado que ficaram gravadas em placas colocadas no átrio principal do edifício.
No teatro Gil Vicente foram proferidas diversas conferências, bem como tiveram lugar as sessões do 1º Congresso Missionário realizado de 1 a 5 de Setembro de 1931 e uma série de sessões políticas e comemorativas durante a 1ª República e o Estado Novo, mas também uma sessão de propaganda a favor da candidatura do general Humberto Delgado, em Maio de 1958. Foi ainda palco de importantes sessões políticas, depois do 25 de Abril de 1974.
O cinema, a principal e a mais numerosa actividade desta casa de espectáculos, foi inaugurado, em 1905. Ali funcionou um “magnífico” cinematógrafo, nos meses de Janeiro/Fevereiro, com “sessões de 30 quadros, divididos em três séries de dez”, sendo a sala iluminada por um arco voltaico.
Em 1 de Maio de 1921, é inaugurado o cinematógrafo da Sociedade Cinematográfica Barcelense que passou a explorar o cinema naquela casa de espectáculos. Mas, o cinema sonoro só chegaria, em 25 de Dezembro de 1932, e o cinemascópio, em 22 de Setembro de 1957. Foi ainda nesta casa que foram passados a grande maioria dos filmes do Cine-Clube de Barcelos, de Outubro de 1978 a Maio de 1979.

Entretanto, o teatro Gil Vicente passou a ter a concorrência, a nível de exibição de fitas cinematográficas, dos Bombeiros Voluntários de Barcelos e de Barcelinhos, do Círculo Católico de Operários de Barcelos, que já antes a mantivera com a designação de Salão Recreativo, e do Cinema Voga.

Triste fim teria a velha casa de espectáculos, pois, nos finais da década de 80 do século passado, também ali foram projectados filmes pornográficos, o que casou enorme indignação em vários sectores da sociedade barcelense.
Ao longo da sua história, o teatro Gil Vicente passou por diversas transformações, sobretudo no seu interior, que lhe foram retirando a sua traça original.
Em Abril de 1923, e superentendidas pelo Engº  Sande e Castro, procedeu-se a obras no seu interior, tendo em vista o aumento da lotação da plateia, remodelação das frisas, susbtituição de mobiliário e remodelação da luz.
Em finais do ano de 1932, quando se instalou o cinema sonoro, procedeu-se, de novo, a algumas obras, tendo-se construido uma cabine para projecção em cimento.
Na inauguração da época de 1939/1940, alguns pequenos melhoramentos foram feitos no edifício, tais como, a abertura de uma porta envidraçada do lado da rua Infante D. Henrique, para se exporem fotografias e reclames dos filmes e fizeram-se obras no palco, na zona do écran.
Na década de 50, a imprensa escrita manifestou-se a favor da construção de um novo teatro, pois o existente era um edifício “acanhado”sem condições acústicas e higiénicas e sem segurança. Consideravam-no mesmo “um  pardieiro, uma miserável espelunca”.
Em Abril de 1955, o célebre “Z” de “O Barcelense” descrevia, deste modo, o panorama sócio-cultural que se vivia em Barcelos:
“Como Barcelos não possuía teatro nem casas de recreio, a não ser a Assembleia Barcelense, havia pontos de cavaco, aonde certos eram sempre os seus frequentadores.
O comércio local, - (como fechava a deshoras) – punha ao dispor das pessoas amigas os seus estabelecimentos.
Assim, a Confeitaria Salvação, a Tabacaria Rocha, a Casa Tomaz d’Araújo, a Casa do Comendador Ferreira Ramos e outras, eram os pontos preferidos por aqueles que, sossegadamente conversavam e para não serem perturbados pelas tacadas dos bilhares, não queriam ir até ao Café do Zé do Botequim ou ao do Paulo daConversão.
De quando em vez, a rapaziada promovia saraus e representação de comédias para as noites, principalmente de inverno, enquanto a melhor gente – a gente grada da terra – combinavam e resolviam passeios recreativos no verão, quer no Rio Cávado, quer em digressões ao Monte da Franqueira e outras ao Convento de Tibães, ficando de tudo isto sempre recordações imorredoiras.”
Apesar de terem sido feitas algumas remodelações, o teatro Gil Vicente encerrava as suas portas, no início da temporada de 1964/65, por motivos de segurança. No começo desse último ano, artigos publicados pelo director de “O Barcelense” lançavam o alerta: “Vamos deixar destruir o nosso teatro ou impor a realização de obras para que cumpra a sua finalidade?”. Em Abril desse ano, outro artigo continuava a defender a remodelação do teatro e apelava: “Quem pugnará para que a sala de recreio e cultura de Barcelos, o oásis da gente pobre, se reanime em esplendor?”. E, em finais do ano de 1965, o director daquele semanário voltava à carga e desafiava os accionistas: “Há ou não Accionistas do Teatro?”sugerindo a constituição de uma comissão pró-teatro que organizasse uma assembleia geral de accionistas, onde pudessem ser debatidos “os problemas que entravam o ressurgimento do Gil Vicente”condição necessária para a constituição de um conselho de administração que o gerisse convenientemente.
O teatro Gil Vicente precisava, de facto, de obras e não reunia as melhores condições para a exibição de cinema. Chegou-se mesmo a solicitar a intervenção da Câmara Municipal no sentido de transformá-lo em teatro municipal ou de se construir um novo cine-teatro ou um cinema. Falava-se ainda de um projecto que passava pela destruição do teatro e a construção, no seu lugar, do edifício da Caixa Geral de Depósitos. Todavia, nada se chegou a concretizar.
No dia 11 de Dezembro de 1966, o cine-teatro reabria ao público com a exibição do filme “Desafio ao F.B.I.”, depois de ter sido eleita uma nova direcção da Empresa Teatral Gil Vicente presidida pelo Dr. Francisco Torres.
A Empresa Teatral Gil Vicente que, entretanto fora reformulada, com a entrada de novos accionistas, colocava, em meados de 1991, o teatro à venda. Depois de uma contenda negocial e jurídica entre aquela empresa, proprietária da casa de espectáculos e a Sociedade Cinematográfica Barcelense que a explorava, o teatro Gil Vicente encerrou as suas portas no ano de 1992. Em Maio do ano seguinte, era vendido a um empresário da cidade de Braga e, em 10 de Março de 1995, era feita a escritura pública da sua aquisição por parte da Câmara Municipal de Barcelos.
Depois de, em Outubro de 1997, se ter lançado um concurso de ideias, para a elaboração de um estudo prévio, o projecto de recuperação e remodelação foi adjudicado, por deliberação camarária, em reunião extraordinária de 30 de Julho de 1999.
Segundo a equipa projectista, a recuperação e remodelação do teatro Gil Vicente implicava a manutenção integral da “forma e aparência do exterior”, designadamente da fachada, enquanto o interior era alvo de uma completa e radical transformação”.
As obras de recuperação e remodelação foram adjudicadas por deliberação camarária de 15 de Outubro de 2004.

Biblioteca Municipal

Fundada em 10 de Junho de 1880, está instalada, desde 1996, na chamada Casa dos Machados da Maia, edifício do século XVI, de traça manuelina, ao qual se acrescentou um novo edifício construído no seu logradouro.
Dispondo de amplas e funcionais instalações, que lhe dão a feição de um espaço agradável, tem como missão promover a difusão do livro e da leitura e contribuir para a criação de hábitos de leitura, mas também a de preservar e divulgar a memória histórica e literária local.
O seu espólio é valioso, sendo de salientar os fundos documentais pertencentes ao antigo Convento deVilar de Frades, às Bibliotecas do Conde de Azevedo e de Álvares da Silva e um Fundo Local significativo constituído por monografias, separatas, opúsculos, postais ilustrados, fotografias, cartazes, desdobráveis e publicações periódicas referentes a Barcelos e a autores barcelenses que integram a chamada “Barceliana”.
Do seu vasto programa de extensão cultural, que se realiza, na própria Biblioteca Municipal, e, nasBibliotecas Escolares, assumem particular relevo, os encontros com escritores, os vários ateliês e acçõesde formação, as palestras sobre diversos temas, a divulgação do património local, através de exposições documentais e iconográficas, o debate de assuntos com interesse para a comunidade, o incentivo e apoio à publicação de livros, bem como a realização de exposições de fotografia e de artes plásticas.
O teatro, a música e o cinema são outras áreas que acarinhamos e não faltam iniciativas que mobilizem todos, mas muito especialmente as crianças e os jovens.
A ligação com a comunidade, com as escolas e com as associações culturais e profissionais, é um vector na nossa conduta, bem como a atenção aos interesses e às novas necessidades dos clientes.